quarta-feira, 12 de maio de 2010

A DESCOBERTA DO FOGO- 3º ANO



Uma lenda grega, imortalizada na tragédia Prometeu Acorrentado de Ésquilo (525 a.C. – 456 a.C.), relata que o gigante Prometeu roubou o fogo dos deuses para presentear aos homens, por esse motivo, recebeu como castigo uma terrível tortura.

Libertado por Hércules, ficou conhecido como Deus do Fogo, sendo considerado seu guardião. Rubens (1577-1640), o maior expoente da pintura Barroca, transcreveu em tela o suplício de Prometeu.
Eis aí uma explicação, mitológica como era comum no princípio da humanidade, para explicar a descoberta do fogo, fonte de luz e calor e que seria seu ato pioneiro de descoberta científica.

As descobertas chamadas empíricas ocorrem, geralmente, segundo uma seqüência que envolve, grosso modo, observação, experimentação, aplicação.

A descoberta do fogo não fugiu a essa regra.

Os hominídeos perceberam pela primeira vez o fogo há muitos milênios, em uma época que não podemos precisar, mas há provas substanciais de que já era usado na Europa e na Ásia na Era do Paleolítico Posterior e na do Neolítico. Assim, cerca de 500 mil anos antes de Cristo, o chamado Homem de Pequim (Pithecantropus pekinensis) utilizava o fogo, havendo disto evidências encontradas em cavernas. Quimicamente, o fogo corresponde à combustão, que envolve a combinação do oxigênio da atmosfera com o carbono contido em materiais orgânicos, folhas, grama, madeira etc. É uma reação que pode ser espontânea ou iniciada por um agente energético natural ou intencional.

A reação espontânea pode ocorrer em ambientes orgânicos muito secos, como conseqüência de elevação de temperatura e ao ser atingido o ponto de ignição. Outra forma da ocorrência do fogo é por meio da ação de relâmpagos na madeira de árvores. Em ambas as situações, nos primórdios da humanidade, uma vez formadas as fagulhas e o fogo iniciado, a ação do vento pôde fazer com que ele se espalhasse através de florestas e campos num processo contínuo, como o que ainda hoje ocorre em incêndios que podem se estender por milhares de quilômetros quadrados.

O homem primitivo inicialmente observou esse fogo surgido espontaneamente e começou a utilizá-lo de maneira esporádica e desorganizada, como fonte de iluminação e aquecimento. Para isso foi necessário, num primeiro momento, descobrir como mantê-lo vivo, o que resultou provavelmente da observação de que brasas resultantes da queima natural de madeira podiam ser reativadas pela ação do vento, ou pelo sopro, fazendo a chama reaparecer.

A etapa seguinte consistiria em produzir voluntariamente o fogo. Talvez a observação de que ele se propagava pelo aquecimento de galhos ou folhas secas indicou que a chama poderia ser iniciada com temperaturas elevadas. Dessa forma, a descoberta de que o atrito entre dois pedaços de madeira seca elevava a temperatura até produzir uma chama, que podia ser ativada pelo sopro, deu inicio à jornada tecnológica do homem, no seu controle da natureza. Ainda atualmente, o método do atrito na produção do fogo é encontrado entre povos primitivos, como em algumas tribos de índios brasileiros.

Na seqüência, outro método foi desenvolvido, consistindo na percussão de duas pedras para a produção de faíscas. A observação de que fagulhas têm o poder de começar uma chama e que o choque de algumas rochas produz faíscas conduziu a mais uma forma de iniciar uma combustão. Existem observações de achados originários da Era Paleolítica que indicam esse processo sendo usado pelo emprego de pirita (sulfeto de ferro) sob a forma de pequenos grãos ou ainda de sílex (variedade de rocha formada principalmente por dióxido de silício), material extremamente duro.

Muito tempo depois foi descoberto que as fagulhas formadas eram mais fortes e persistentes quando se batia sílex com ferro ou aço. Esse processo persistiu até o séc. XIX. Na Europa e no Brasil ainda era encontrado no começo do séc. XX.

O avanço seguinte, e bem mais recente, de um processo simples de produção de fogo, surgiria com a invenção, na Inglaterra em 1827, do palito de fósforo2. O elemento fósforo combina-se com o oxigênio tão facilmente que se acende apenas exposto ao ar. Os primeiros fósforos fabricados acendiam por atrito e exalavam um cheiro muito desagradável. Mais adiante, em 1845, começaram a ser fabricados os chamados fósforos de segurança, cuja cabeça combustível contém outros componentes não-inflamáveis, garantindo a sua utilização de forma segura.

Mas... essa já é outra história! 

Mabel Rodrigues - EDITORA MODERNA
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